Enquanto assistimos as sucessivas obras enxuga-gelo da Prefeitura de Santos, montando e remontando o jogo de lego das pecinhas-símbolo da cidade derrubada pelas marés na Ponta da Praia, um povo de terno aliado a burocratas discutem o que seriam tecnologias “imediatas e definitivas” pra enfrentar a erosão costeira. Com poucos dados meteooceanográficos coletados de forma sistemática, independente e consistente , a ideia de solução imediata e definitiva só pode ser piada.
A então Comissão de Mudança Climática de Santos parece falar pra si própria, buscando convencer-se, a partir de postulados viciados, de que estariam chegando a algum lugar. Afirma ter já soluções e inclusive recursos financeiros pra tratar do tema (http://cbnsantos.com.br/santos-apresenta-plano-municipal-de-mudancas-climaticas/). Quando da criação da tal Comissão, o Maramar buscou compor e aportar legitimidade ao processo, pois restou evidente em evento de encerramento do Projeto Metrópole que tratava de adaptação ao clima, que todo o estudo elaborado não tinha público crítico capaz de validar, digamos o público que sente na pele os efeitos das chuvas e marés.
Mais uma vez a ciência falava pra si própria sem interlocução legítima, já que quem se incumbiu de convidar o público foi a assessoria da Prefeitura,que, digamos, não tinha interesse em “chamar as ONGs e a turma da zona noroeste”. Ainda assim parecíamos otimistas há exatamente um ano atrás quando o prefeito oportunamente criou a comissão no mesmo dia. Veja o que escrevemos (http://www.maramar.org.brprefeitura-tem-condicoes-de-liderar-agenda-de-adaptacao-da-cidade-ao-clima/).
Embora recentes são os efeitos dessas ressacas sobre as muretas, tudo já se parece velho
Estudos repletos de conflito de interesses tais como o último que chega a afirmar que haveria uma parcela de 4% a 5% de parcela de culpa da dragagem na erosão e desbalanço sedimentar abruptos dos últimos anos que ocorrem em ambas margens do canal de acesso ao porto, deixa ainda mais claro como caminhamos ou navegamos mal na esfera da governança socioambiental. Falta independência técnica nos estudos, repletos de conflitos de interesse, o trabalho da Poli-USP chega a resultados que atendem ao interesse do cliente, no caso a CODESP, erário público.(http://www.atribuna.com.br/noticias/noticias-detalhe/porto%26mar/dragagem-tem-impacto-minimo-em-ressacas-diz-professor-da-usp/?cHash=0b31346480c9727fe4d2983b1dbf51d2).
Onde nasce todo esse papo de clima e erosão por causa da dragagem
Datam de 2006 os trabalhos do Maramar apontando o problema, a partir do histórico documento chamado “Carta da Praia do Góes” que coloca um óculos nos olhos do IBAMA, despertando o gigante adormecido, e determina que “se houver dano a praias devido a dragagem, o ambiente deverá ser reparado”. Em 2008, o jornal O Eco faz uma belo vídeo reportagem com os ganhos obtidos com a Carta do Góes (http://www.oeco.org.br/reportagens/20042-fome-do-progresso-no-porto-de-santos/). Um ano depois, a jornalista Fernanda Balbino, da Tribuna de Santos, produziu material semelhante mostrando o contraponto do Maramar, ao que a CODESP sempre negará o nexo causal entre danos à praia e dragagem (ou terá que pagar a restauração de praias !) (http://www.atribuna.com.br/noticias/noticias-detalhe/porto%26mar/dragagem-tem-impacto-minimo-em-ressacas-diz-professor-da-usp/?cHash=0b31346480c9727fe4d2983b1dbf51d2.
Daquele momento em diante, um exército de consultores a serviço da empresa interessada (no caso empresa pública – CODESP), aponta o clima, as calçadas, o emissário submarino, São Pedro, quiçá até um novo alinhamento do planeta pra justificar que a dragagem nada tem a ver com as simbólicas muretas que caem como dominós a cada sopro. Com o papo do clima, passo a passo, a CODESP abastece o mercado de consultorias, justificando o injustificável.
Das pinturas da região feitas pelo célebre Benedito Calixto até os dia de hoje,o canal natural com os canhões apontados da Fortaleza da Barra passou do que seria de se esperar de uma batimetria de seis metros pra o que temos hoje, algo em torno de 13 a 15 metros. Apesar disso, o fluido marinho estuarino nada alteraria as bordas e taludes submersos do canal. Uma criança sabe que cavocando areia na praia tudo se desmorona, os diversos consultores que já consumiram algumas dezenas de milhões nos últimos dez anos, cada hora passando o bastão para um grupo diferente, pensam diferente e nada apontam.
Fato é que há uma verborragia propalada por qualquer interlocutor falando do assunto, e agora, a próxima tacada seria acessar recursos com intermédio do Ministério Público para a Prefeitura de Santos salvar a praia como afirma a reportagem da CBN Santos (link mencionado acima). Pequeno detalhe, a Praia do Góes na Ilha de Santo Amaro,Guarujá, sofre de patologia pseudo-climática análoga e parece estar abandonada quando o assunto é dinheiro pra obras de engenharia.
Nossas sugestões
Faça concursos de projetos!! Coloque recursos financeiros em edital público, que organizações independentes e grupos de pesquisa não pagos pela CODESP surgirão, em rede, pra buscar resolver a questão. Conflitos dessa dimensão necessitam uma nova postura, um novo arranjo institucional, com transparência e, sobretudo, independência nos estudos e sistemas de monitoramento a serem gerados. Fica a dica.