Camarão sete-barbas: de camarão barato para camarão insubstituível

A pesca de arrasto de camarão sete barbas veio para o litoral de São Paulo em meados da década de 1970, ou até antes, trazidos pelos descendentes de açorianos de Santa Catarina, que lá já pescavam com a técnica conhecida por “mexicana” ou pesca de tangone. O saboroso camarão sete barbas tem sido alçado da categoria de camarão comum ou míudo, para camarão único e insubstituível, uma vez que, no mundo dos camarões, ele é o escolhido para recheios, molhos e outras iguarias gastronômicas.

O aspecto, digamos, de leitura culinária sob o prisma da gestão dos estoques pesqueiros, foi apresentado oralmente no II Congresso Mundial de Pesca Artesanal em Mérida, México (2014). Mais tarde, esse trabalho ganhou cunho territorial e chamou a atenção para perda do direito à pesca artesanal de camarão sete-barbas. Problema que decorre devido a políticas de proteção, de zoneamento e imposições legais de licenciamentos ambientais de empreendimentos e emissários submarinos afetando as áreas sem contrapartidas à altura para o setor. ¹

O potencial gastronômico dessa espécie de camarão, ilustrado na foto acima, é encontrado no arroz com camarão e palmito que conseguimos no bairro do Rio do Meio, próximo do Santa Rosa em Guarujá (SP).  Esse um importante porto pesqueiro, com suas “salgas” para beneficiamento e desembarque de camarão, dá conta de boa parte produção do sete-barbas desembarcado de Guarujá, lembrando que os artesanais de Santa Cruz dos Navegantes ali também “botam o camarão ” contabilizando a estatística para pra aquele primeiro ². A sopa de letrinhas do que vem a ser estatística pesqueira no Brasil é um capítulo a parte. 

Só recentemente a pesca artesanal de camarão sete-barbas foi demonstrada como superior em produção à pesca industrial ao longo do litoral de São Paulo, no entanto, carece de gestão e manejo, uma vez que os pescadores artesanais se sentem traídos pelo Estado de São Paulo, quando juntos colaboraram na construção do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) da Baixada Santista ³Ocorre que na época a proposta de zoneamento defendida era de limitar a área de pesca para além dos 5 metros de batimetria (profundidade), criando-se então, uma zona não permitida ao arrasto. Uma área digamos, para a conservação da biodiversidade que seria então “compensada “com o afastamento de barcos acima de 12 metros das áreas costeiras.

No entanto, no apagar das luzes, tendo o voto contrário do Instituto Maramar, aprovou-se uma proposta de que uma distância de 700 metros da costa seria mais adequado “por facilitar a fiscalização”. Esquecem os gestores públicos que 700 metros em Praia Grande pode até atingir 5 metros de profundidade, porém na costeira de Guarujá esse 700 metros pode chegar a 12 metros.

Detalhe pequeno para desentendidos, mas um enorme prejuízo e perda de território pesqueiro aos pescadores artesanais. Avanços em uma época não querem necessariamente dizer ganhos permanentes, assim como na recente deliberação no âmbito do CONSEMA, que pode ser conferido exatamente entre os trechos 1:18:06 até 1:27:00 o debate envolvendo o assunto, indica que as conquistas obtidas pro setor artesanal no litoral norte paulista sofrerão grande retrocesso, permitindo barcos grandes pescarem nos territórios pesqueiros mais rasos, pressionando ainda mais os pescadores artesanais.  Talvez ainda de para reverter.

Confira mais sobre os assuntos:

1. Gestão dos estoques pesqueiros
2. Estatística pesqueira do Estado de São Paulo
3. Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) da Baixada Santista.²
4. CONSEMA

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