Oscar é o corretor do mar. Ele aparece com a difícil tarefa de colocar ordem em algo que, aparentemente, não tem ordem nenhuma: afinal, quem tem direito aos recursos do mar?
Pescadores, pescadoras e moradores dos 10 bairros onde aconteceram as Consultas Públicas foram surpreendidos com a presença desse profissional, muitas vezes confundido com algum pastor de alguma igreja, já que aparecia sempre de camisa social, gravata e carregando uma pasta, mas, ao invés de um pedacinho do céu, ele prometia um pedacinho do mar.
A brincadeira foi a forma encontrada para explicar e chamar a atenção para a construção de uma proposta de Zoneamento Marinho para Guarujá. Oscar, na verdade é o ator Oswaldo Júnior, natural de Guarujá e conhecido por se engajar em projetos de cunho político e socioambiental. O profissional participou de cursos no Centro do Teatro do Oprimido (CTO) do teatrólogo Augusto Boal e tem aportado este conhecimento para os trabalhos participativos do MARAMAR. A metodologia buscou na arte a ferramenta para atrair atenção e ensinar, utilizando uma forma de comunicação pessoal e popular.
“A idéia surgiu no Sítio Cachoeirinha para outro projeto e esse era um personagem que ia sair na rua anunciando o trabalho que ia ser realizado lá. Mas surgiu o Zoneamento antes, como faria esse trabalho, no zoneamento teria que ser de um por um, e na conversa surgiu a idéia do corretor marítimo”, explica Júnior.
A reação foi diversa. “A maioria se assusta, estranha quando foi abordado, conforme vai se conversando vai entendendo o que é. Outros falavam que queriam o lote com sardinha, indicavam aonde queriam o lote, outros diziam que queriam ir para outro canto, falavam os locais. Teve gente que entrou na brincadeira, que falou que ia chamar o capitão da marinha, pra me prender. Teve gente que falou que o mar era de Deus, que só Deus podia vender”, conta Júnior.
Segundo o ator, na intervenção na rua, era visível que a forma de abordagem atraía mais a atenção, já que informava sobre algo sério, mas de uma forma mais leve. O contato direto, olho-no-olho também foi outro diferencial. “Fica mais personalizado, fica mais próximo do sujeito ao qual se quer levar a informação”.
“As pessoas vão pela novidade, por ver que há uma forma diferente de se falar do mesmo problema e quando a gente usa a arte nesse sentido, me parece que aquela seriedade das reuniões, aquela coisa pesada, a arte consegue diminuir e as pessoas falam do mesmo assunto, mas de uma forma mais tranqüila”, diz.
Marina Teles